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Asteroid City
Os fãs de Wes Anderson, ou pessoas que apreciem o seu estilo cinematográfico, vão encontrar em Asteroid City (2023) algum proveito. Embora seja um apreciador de Wes Anderson, considero o seu último filme um pouco acima de medíocre. Apesar de um visual deslumbrante e uma edição impressionante, qualidades típicas de Wes, aliadas aos fortes desempenhos de Scarlett Johansson e Jason Schwartzman, o filme deixa algo a desejar em termos de desenvolvimento de personagens e história, tornando-se demasiado meta por vezes. No entanto, para os que têm curiosidade em ver Wes experimentar um pouco com o seu estilo característico, ou ser imersos num cenário diferente, Asteroid City (2023) pode valer a pena.
Um dos pontos fortes incontestáveis do filme é o seu apelo visual. A atenção meticulosa de Wes à cenografia, palete de cores e vestuário brilha mais uma vez, resultando num mundo visualmente deslumbrante e esteticamente agradável. A edição também é irrepreensível, melhorando a experiência geral de visualização. Para além disto, Scarlett Johansson e Jason Schwartzman têm desempenhos excecionais, proporcionado profundidade e empatia às suas respetivas personagens, apesar das oportunidades de desenvolvimento das mesmas.
Contudo, os efeitos visuais deslumbrantes de Asteroid City (2023) não são suficientes para carregar os temas confusos e alegóricos que Wes Anderson explora. Apesar da sua relativa curta duração, perfazendo 105 minutos, o filme aparenta ser maior do que é, talvez porque durante uma parte considerável do filme estava aborrecido.
A história é inexistente, focando-se totalmente nas personagens. Este foco não é errado, e aprecio de igual modo, contudo, devido ao numeroso elenco, que combina os típicos atores e atrizes com novas adições, o desenvolvimento das personagens é praticamente nulo, o que acaba por deteriorar o filme, visto que não há tempo de ecrã para tantas personagens, com exceção das interpretadas por Scarlett Johansson e Jason Schwartzman, que são as principais e acabam por ser alvo de um foco maior, especialmente este último. Aliás, após uma análise mais detalhada onde se comparam os paralelismos entre as duas personagens que Jason Schwartzman interpreta, é possível notar que este se está a tornar numa só personagem, ambas com um conflito similar. A “solução” deste conflito, ou melhor, o que ambas as personagens devem fazer, encontra-se na própria peça de teatro, curiosamente numa cena cortada no universo onde o filme se passa. Uma cena chave, já quase no final do filme, liga as temáticas exploradas por Jason Schwartzman. Até ao momento dessa cena, o filme parece perdido, com as várias cenas a parecerem desunidas durante quase a totalidade do filme todo. Numa análise retrospetiva, os temas parecem fáceis de identificar, embora o filme apresente alguns destes de forma confusa.
Apesar de apresentar alguns elementos fortes, Asteroid City (2023) é um filme que acaba por parecer repetitivo no que diz respeito à dinâmica das personagens. Embora possa valer a pena ver para os fãs de Wes Anderson, o filme não consegue impressionar no geral.
Apesar de possuir alguns elementos fortes, Asteroid City (2023) fica aquém em termos de história e desenvolvimento de personagens, demorando demasiado tempo com meta-comentários. Para quem aprecia o estilo distinto de Wes e está disposto a ignorar as falhas do filme, "Asteroid City" continua a ser uma experiência intrigante dentro da filmografia de Wes e oferece uma experiência divertida e extravagante. No entanto, para aqueles que não são fãs do trabalho de Wes ou procuram uma narrativa mais tradicional, este filme pode não ser a melhor introdução ao seu portfólio cinematográfico.
Um dos pontos fortes incontestáveis do filme é o seu apelo visual. A atenção meticulosa de Wes à cenografia, palete de cores e vestuário brilha mais uma vez, resultando num mundo visualmente deslumbrante e esteticamente agradável. A edição também é irrepreensível, melhorando a experiência geral de visualização. Para além disto, Scarlett Johansson e Jason Schwartzman têm desempenhos excecionais, proporcionado profundidade e empatia às suas respetivas personagens, apesar das oportunidades de desenvolvimento das mesmas.
Contudo, os efeitos visuais deslumbrantes de Asteroid City (2023) não são suficientes para carregar os temas confusos e alegóricos que Wes Anderson explora. Apesar da sua relativa curta duração, perfazendo 105 minutos, o filme aparenta ser maior do que é, talvez porque durante uma parte considerável do filme estava aborrecido.
A história é inexistente, focando-se totalmente nas personagens. Este foco não é errado, e aprecio de igual modo, contudo, devido ao numeroso elenco, que combina os típicos atores e atrizes com novas adições, o desenvolvimento das personagens é praticamente nulo, o que acaba por deteriorar o filme, visto que não há tempo de ecrã para tantas personagens, com exceção das interpretadas por Scarlett Johansson e Jason Schwartzman, que são as principais e acabam por ser alvo de um foco maior, especialmente este último. Aliás, após uma análise mais detalhada onde se comparam os paralelismos entre as duas personagens que Jason Schwartzman interpreta, é possível notar que este se está a tornar numa só personagem, ambas com um conflito similar. A “solução” deste conflito, ou melhor, o que ambas as personagens devem fazer, encontra-se na própria peça de teatro, curiosamente numa cena cortada no universo onde o filme se passa. Uma cena chave, já quase no final do filme, liga as temáticas exploradas por Jason Schwartzman. Até ao momento dessa cena, o filme parece perdido, com as várias cenas a parecerem desunidas durante quase a totalidade do filme todo. Numa análise retrospetiva, os temas parecem fáceis de identificar, embora o filme apresente alguns destes de forma confusa.
Apesar de apresentar alguns elementos fortes, Asteroid City (2023) é um filme que acaba por parecer repetitivo no que diz respeito à dinâmica das personagens. Embora possa valer a pena ver para os fãs de Wes Anderson, o filme não consegue impressionar no geral.
Apesar de possuir alguns elementos fortes, Asteroid City (2023) fica aquém em termos de história e desenvolvimento de personagens, demorando demasiado tempo com meta-comentários. Para quem aprecia o estilo distinto de Wes e está disposto a ignorar as falhas do filme, "Asteroid City" continua a ser uma experiência intrigante dentro da filmografia de Wes e oferece uma experiência divertida e extravagante. No entanto, para aqueles que não são fãs do trabalho de Wes ou procuram uma narrativa mais tradicional, este filme pode não ser a melhor introdução ao seu portfólio cinematográfico.
The Making of The Grand Budapest Hotel
Alguns anos após ver em casa, tive agora a oportunidade de rever este filme no grande ecrã e devo dizer que valeu a pena. A maneira como Wes Anderson "brinca" com a realização do filme é impressionante, resultando num filme que, apesar de bastantes características semelhantes à restante filmografia, consegue-se elevar perante os seus outros filmes. Na minha opinião, isto deve-se sobretudo ao desempenho brilhante de Ralph Fiennes. Obviamente que o seu desempenho trabalha em conjunto com o dos restantes atores, visuais, edição e música, mas Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes) amplifica estas características todas. É impressionante olhar para o filme e perceber que o mesmo ator do excêntrico Gustave foi previamente Amon Goth no Schindler's List (1993).
O estilo característico que Wes Anderson (em conjunto com Robert Yeoman) nos habituou, já imagem de marca deste realizador, continua presente. Paletes de cores pastel vibrantes e saturadas, composições simétricas, e aspeto fantasioso e nostálgico são as que se destacam mais. Os seus filmes altamente estilísticos são adorados por muitos e, ao mesmo tempo, rejeitados por outros. No meu caso, encaixo-me na primeira categoria. É compreensível a razão de não existir propriamente uma reação intermédia aos filmes dele: ou adoramos o estilo de Wes, ou não. O problema é que, além de Bottle Rocket (1996) e parcialmente Rushmore (1998), os seus filmes têm quase sempre uma apresentação similar, o que impede outros espetadores de apreciarem da sua restante filmografia se estes se encaixarem nos que não gostam do estilo do realizador.
As habituais personagens peculiares e excêntricas continuam a fazer parte do enredo, com atores como Adrien Brody, Willem Dafoe e Jeff Goldblum a brilharem quando têm tempo de ecrã. No entanto, torna-se algo repetitivo ver quase sempre personagens unidimensionais nos filmes de Wes, quase sempre com uma apenas uma ou outra característica peculiar. Esta é outra razão que provoca o contraste de Monsieur Gustave com as restantes personagens, que difere em vários aspetos das restantes personagens.
Outro toque cinematográfico que apreciei, além dos previamente mencionados, foi o uso do rácio de aspeto para evocar a sensação de nostalgia, que muda consoante a época onde se passa o filme, sendo a mais antiga caracterizada pelo rácio 1.37:1 e a mais recente por 2.40:1. Isto também permite facilmente identificar os três períodos.
Resumidamente, The Grand Budapest Hotel (2014) é uma obra-prima de Wes Anderson que merece a oportunidade dos menos apreciadores do seu cinema, nem que seja só para ver Ralph Fiennes a dominar cada segundo do ecrã.
O estilo característico que Wes Anderson (em conjunto com Robert Yeoman) nos habituou, já imagem de marca deste realizador, continua presente. Paletes de cores pastel vibrantes e saturadas, composições simétricas, e aspeto fantasioso e nostálgico são as que se destacam mais. Os seus filmes altamente estilísticos são adorados por muitos e, ao mesmo tempo, rejeitados por outros. No meu caso, encaixo-me na primeira categoria. É compreensível a razão de não existir propriamente uma reação intermédia aos filmes dele: ou adoramos o estilo de Wes, ou não. O problema é que, além de Bottle Rocket (1996) e parcialmente Rushmore (1998), os seus filmes têm quase sempre uma apresentação similar, o que impede outros espetadores de apreciarem da sua restante filmografia se estes se encaixarem nos que não gostam do estilo do realizador.
As habituais personagens peculiares e excêntricas continuam a fazer parte do enredo, com atores como Adrien Brody, Willem Dafoe e Jeff Goldblum a brilharem quando têm tempo de ecrã. No entanto, torna-se algo repetitivo ver quase sempre personagens unidimensionais nos filmes de Wes, quase sempre com uma apenas uma ou outra característica peculiar. Esta é outra razão que provoca o contraste de Monsieur Gustave com as restantes personagens, que difere em vários aspetos das restantes personagens.
Outro toque cinematográfico que apreciei, além dos previamente mencionados, foi o uso do rácio de aspeto para evocar a sensação de nostalgia, que muda consoante a época onde se passa o filme, sendo a mais antiga caracterizada pelo rácio 1.37:1 e a mais recente por 2.40:1. Isto também permite facilmente identificar os três períodos.
Resumidamente, The Grand Budapest Hotel (2014) é uma obra-prima de Wes Anderson que merece a oportunidade dos menos apreciadores do seu cinema, nem que seja só para ver Ralph Fiennes a dominar cada segundo do ecrã.
O Planeta dos Macacos
O remake de Planet of the Apes (1968) é facilmente classificado: um mau filme, com alguns destaques que não são suficientes para elevar o filme, nem para a mediocridade. Começando pelos (poucos) pontos positivos, é imperativo realçar o trabalho do departamento de roupa e maquilagem. A atenção ao detalhe no design dos gorilas é notável, sendo esta quase a única razão para ver o filme. No entanto, apesar do design impressionante, a maquilhagem prostética dificulta, por vezes, a capacidade dos atores transmitirem emoções. Helena Bonham Carter sofre particularmente deste problema, além da sua maquilhagem não ser tão convincente como as restantes. O outro ponto positivo são os desempenhos de Tim Roth (General Thade) e Michael Clarke Duncan (Attar), que adaptam o seu desempenho ao tipo de filme que é, não sendo muito sérios.
Falando agora dos pontos negativos, estes são impossíveis de ignorar. O enredo confuso, com personagens pouco desenvolvidas e desinteressantes, é o ponto fraco principal do filme, em conjunto com o seu mau pacing. Etapas importantes da história são pouco desenvolvidas devido à rapidez com que estes progridem. Isto, aliado ao desempenho de madeira de quase todos os humanos, resulta numa fraca profundidade emocional.
Relativamente ao protagonista, o desempenho de Mark Wahlberg é o típico papel dele, continuando a fazer praticamente o mesmo papel desde que é ator. Apesar de ter na sua filmografia alguns destaques, como Boogie Nights (1997), a sua profundidade em termos de habilidade como ator continua superficial, tornando os seus desempenhos unidimensionais. Embora não seja um grande fã, consigo reconhecer quando este faz um bom papel. Neste filme isso não ocorre.
Planet of the Apes (2001) é um péssimo filme e remake, sendo facilmente uma das piores obras de Tim Burton. A fraca exploração dos temas que compõem o filme original e o tornam num clássico, assim como os restantes aspetos negativos previamente mencionados, fazem com que este filme não consiga ter o mesmo impacto que o original. Do que conheço do filme original, que ainda tenho por ver, é impossível negar o impacto e influência que teve na cultura popular e no género da ficção científica.
Falando agora dos pontos negativos, estes são impossíveis de ignorar. O enredo confuso, com personagens pouco desenvolvidas e desinteressantes, é o ponto fraco principal do filme, em conjunto com o seu mau pacing. Etapas importantes da história são pouco desenvolvidas devido à rapidez com que estes progridem. Isto, aliado ao desempenho de madeira de quase todos os humanos, resulta numa fraca profundidade emocional.
Relativamente ao protagonista, o desempenho de Mark Wahlberg é o típico papel dele, continuando a fazer praticamente o mesmo papel desde que é ator. Apesar de ter na sua filmografia alguns destaques, como Boogie Nights (1997), a sua profundidade em termos de habilidade como ator continua superficial, tornando os seus desempenhos unidimensionais. Embora não seja um grande fã, consigo reconhecer quando este faz um bom papel. Neste filme isso não ocorre.
Planet of the Apes (2001) é um péssimo filme e remake, sendo facilmente uma das piores obras de Tim Burton. A fraca exploração dos temas que compõem o filme original e o tornam num clássico, assim como os restantes aspetos negativos previamente mencionados, fazem com que este filme não consiga ter o mesmo impacto que o original. Do que conheço do filme original, que ainda tenho por ver, é impossível negar o impacto e influência que teve na cultura popular e no género da ficção científica.
Os Espíritos de Inisherin
Um filme que tem como simples premissa o fim de uma amizade, desenvolve-se e termina com paralelos e alegorias à guerra civil irlandesa, solidão, hipocrisia e niilismo. Estes são os principais temas do filme, que são apresentados com uma mistura de drama interlaçado com humor negro.
Protagonizado pelo duo carismático Colin Farrell (Pádraic) e Brendan Gleeson (Colm), que voltam a atuar juntos num filme de Martin McDonagh, The Banshees of Inisherin (2022) passa-se em 1923, ainda durante a guerra civil irlandesa (1922-1923). A guerra assume um papel de fundo, sem sequer chegar a ter uma importância secundária. Isto deve-se ao seu uso, que, dependendo do conhecimento por parte do espectador sobre a guerra civil irlandesa e as marcas consequentes, tanto pode ser classificado como subtil, como por direto. O paralelismo entre a guerra e a relação de Pádraic e Colm não é a única componente fornecida pela guerra, pois também serve para demonstrar que Inisherin é realmente um local praticamente isolado de tudo e todos. Esta ilha ficcional (que significa ilha da Irlanda), onde o enredo se desenvolve, acaba por contribuir para o isolamento das pessoas, que por sua vez contribui para a hipocrisia apresentada. Além disso, as paisagens, apesar da simples (mas bonita) cinematografia, dão ao espectador uma mixórdia de fantasia e isolacionismo, evocando novamente o quão remota se encontra a população residente da restante Irlanda, como se de uma bolha populacional se tratasse.
Voltando ao catalisador do enredo, o filme retrata o final de uma amizade e as suas consequências. De um lado, temos Pádraic, por muitos caracterizado como um dos "tolos" da ilha, que gosta da sua vida tal como é, vivendo o presente e tentando ser sempre uma boa pessoa, algo que também é diversas vezes sugerido pela população da ilha como uma das suas características (além de tolo!). Do outro lado, está Colm, a pessoa que decidiu acabar com a amizade, sem saber explicar bem ao certo a razão, apesar de dar uma a Pádraic, que este não recebe bem e começa a duvidar da sua inteligência e simpatia. Aliás, a meu ver a razão que Colm dá não faz sentido, sendo facilmente percetível que se trata de um caso de depressão e crise existencial, com um misto de hipocrisia misturado. Como a irmã de Pádraic diz, todos os homens da ilha são broncos, além de outra cena chave e uma das melhores, para mim, do filme, que se torna difícil de referir sem dar spoiler, que ocorre com o Pádraic já embriagado e que decide confrontar Colm. Esta cena culmina na frase "Nunca ninguém se lembra das pessoas que foram simpáticas", seguida de um corte na edição que desmente essa afirmação.
Após uma boa quantidade de texto onde parece que só vejo defeitos em Colm e virtudes em Pádraic, é altura de reverter a medalha. O que torna uma pessoa boa ou simpática? Como sabemos se uma pessoa está a usar uma “máscara”? Colm, na sua crise artística, leva abaixo consigo Pádraic, que, apesar de tentar por várias vezes remender a amizade, acaba por ser arrastado e descer para um nível mais baixo, com consequências para a relação entre Pádraic e Colm e para outros habitantes da ilha, como Dominic (Barry Keoghan), que em parte simboliza a “parte” mais inocente, simpática e pura de Pádraic. Isto pode significar que no fundo, apesar da aparente simpatia de Pádraic, este está habituado ao status quo e é adverso à mudança. Habituado à vida estática de Inisherin, este acaba por não conseguir lidar da melhor maneira com tantas mudanças na sua vida ao mesmo tempo.
O filme acaba com ambos a reminiscenciar o percurso realizado por cada um durante o filme, percurso este que deixou feridas que nunca irão sarar totalmente, nem com o tempo: uma analogia às marcas da guerra civil irlandesa.
Um dos aspetos principais a realçar no filme, além das temáticas previamente referidas, é o desempenho por parte de Barry Keoghan, que, numa das melhores cenas do filme, demonstra uma vulnerabilidade palpável. Além de Barry Keoghan, a dupla Colin Farrell e Brendan Gleeson jogam muito bem um com o outro, apesar de, na minha opinião, Colin Farrell conseguir roubar o ecrã na maior parte das suas cenas. Por alguma razão, estes três atores foram nomeados aos óscares e, noutros anos em que a concorrência não foi tão boa, muito possivelmente um destes atores ganharia um óscar.
Concluindo, The Banshees of Inisherin (2022) é um dos melhores filmes de 2022, com um humor negro e diálogo engraçados, sabendo ao mesmo tempo deixar a componente dramática respirar, com os grandes desempenhos do trio Colin Farrell, Brendan Gleeson e Barry Keoghan. A sua visualização torna-se ainda mais enriquecida se o espectador possuir algum conhecimento da história irlandesa, embora não seja estritamente necessário saber o contexto da época.
Mais reviews e classificações: Mais reviews e classificações: https://boxd.it/lxp7
Protagonizado pelo duo carismático Colin Farrell (Pádraic) e Brendan Gleeson (Colm), que voltam a atuar juntos num filme de Martin McDonagh, The Banshees of Inisherin (2022) passa-se em 1923, ainda durante a guerra civil irlandesa (1922-1923). A guerra assume um papel de fundo, sem sequer chegar a ter uma importância secundária. Isto deve-se ao seu uso, que, dependendo do conhecimento por parte do espectador sobre a guerra civil irlandesa e as marcas consequentes, tanto pode ser classificado como subtil, como por direto. O paralelismo entre a guerra e a relação de Pádraic e Colm não é a única componente fornecida pela guerra, pois também serve para demonstrar que Inisherin é realmente um local praticamente isolado de tudo e todos. Esta ilha ficcional (que significa ilha da Irlanda), onde o enredo se desenvolve, acaba por contribuir para o isolamento das pessoas, que por sua vez contribui para a hipocrisia apresentada. Além disso, as paisagens, apesar da simples (mas bonita) cinematografia, dão ao espectador uma mixórdia de fantasia e isolacionismo, evocando novamente o quão remota se encontra a população residente da restante Irlanda, como se de uma bolha populacional se tratasse.
Voltando ao catalisador do enredo, o filme retrata o final de uma amizade e as suas consequências. De um lado, temos Pádraic, por muitos caracterizado como um dos "tolos" da ilha, que gosta da sua vida tal como é, vivendo o presente e tentando ser sempre uma boa pessoa, algo que também é diversas vezes sugerido pela população da ilha como uma das suas características (além de tolo!). Do outro lado, está Colm, a pessoa que decidiu acabar com a amizade, sem saber explicar bem ao certo a razão, apesar de dar uma a Pádraic, que este não recebe bem e começa a duvidar da sua inteligência e simpatia. Aliás, a meu ver a razão que Colm dá não faz sentido, sendo facilmente percetível que se trata de um caso de depressão e crise existencial, com um misto de hipocrisia misturado. Como a irmã de Pádraic diz, todos os homens da ilha são broncos, além de outra cena chave e uma das melhores, para mim, do filme, que se torna difícil de referir sem dar spoiler, que ocorre com o Pádraic já embriagado e que decide confrontar Colm. Esta cena culmina na frase "Nunca ninguém se lembra das pessoas que foram simpáticas", seguida de um corte na edição que desmente essa afirmação.
Após uma boa quantidade de texto onde parece que só vejo defeitos em Colm e virtudes em Pádraic, é altura de reverter a medalha. O que torna uma pessoa boa ou simpática? Como sabemos se uma pessoa está a usar uma “máscara”? Colm, na sua crise artística, leva abaixo consigo Pádraic, que, apesar de tentar por várias vezes remender a amizade, acaba por ser arrastado e descer para um nível mais baixo, com consequências para a relação entre Pádraic e Colm e para outros habitantes da ilha, como Dominic (Barry Keoghan), que em parte simboliza a “parte” mais inocente, simpática e pura de Pádraic. Isto pode significar que no fundo, apesar da aparente simpatia de Pádraic, este está habituado ao status quo e é adverso à mudança. Habituado à vida estática de Inisherin, este acaba por não conseguir lidar da melhor maneira com tantas mudanças na sua vida ao mesmo tempo.
O filme acaba com ambos a reminiscenciar o percurso realizado por cada um durante o filme, percurso este que deixou feridas que nunca irão sarar totalmente, nem com o tempo: uma analogia às marcas da guerra civil irlandesa.
Um dos aspetos principais a realçar no filme, além das temáticas previamente referidas, é o desempenho por parte de Barry Keoghan, que, numa das melhores cenas do filme, demonstra uma vulnerabilidade palpável. Além de Barry Keoghan, a dupla Colin Farrell e Brendan Gleeson jogam muito bem um com o outro, apesar de, na minha opinião, Colin Farrell conseguir roubar o ecrã na maior parte das suas cenas. Por alguma razão, estes três atores foram nomeados aos óscares e, noutros anos em que a concorrência não foi tão boa, muito possivelmente um destes atores ganharia um óscar.
Concluindo, The Banshees of Inisherin (2022) é um dos melhores filmes de 2022, com um humor negro e diálogo engraçados, sabendo ao mesmo tempo deixar a componente dramática respirar, com os grandes desempenhos do trio Colin Farrell, Brendan Gleeson e Barry Keoghan. A sua visualização torna-se ainda mais enriquecida se o espectador possuir algum conhecimento da história irlandesa, embora não seja estritamente necessário saber o contexto da época.
Mais reviews e classificações: Mais reviews e classificações: https://boxd.it/lxp7
Tytöt tytöt tytöt
Girl Picture (2022) é uma história que envolve três jovens adultas numa jornada amorosa e de autoconhecimento, dando a conhecer a vida de Emma (Linnea Leino), Mimmi (Aamu Milonoff) e Rönkkö (Eleonoora Kauhanen). O filme realizado por Alli Haapasalo foca-se na vida destas três jovens, dando-nos um olhar ao quotidiano de jovens adultas a lidar com os seus obstáculos que acabam por ser problemas com que qualquer jovem se consegue relacionar.
A abordagem autêntica à fase de jovem adulto, com foco na mulher, torna este filme do género "coming of age" fresco e entusiasmante. Em vez de tocar em assuntos de forma muito leviana ou nem sequer tocar neles, o filme aborda-os. O tema que mais apreciei foi o da assexualidade, que não costuma ser muito discutido nas várias formas de entretenimento. Aliás, uma das únicas ocasiões onde vi o tema abordado foi na série BoJack Horseman (2014). A naturalidade com que a sexualidade é abordada é outro ponto de destaque. Sexo é perfeitamente natural, especialmente durante a fase da adolescência e jovem adulta, e neste filme é tratado dessa forma, tanto fisicamente como em diálogo. E é assim que é suposto. Aliás, a naturalidade com que o filme aborda a sexualidade é refrescante, pois todos nós somos diferentes em diversos aspetos, neste caso, a sexualidade/orientação. A química e dinâmica entre personagens eleva esta abordagem, o que acaba por ser um problema: a curta duração do filme impede-nos de observar mais snippets da sua relação. Eu queria ter visto mais cenas delas juntas! Porque para além da química entre o casal, Rönkkö é contagiante e cheia de vida. Sem dúvida o melhor desempenho do filme.
A narrativa ocorre quase sempre às sextas-feiras, ocorrendo time-skips entre estas, com exceção da última, que se prolonga para o sábado. Apesar disto impulsionar as relações e o desenvolvimento das personagens, surge com isto o mesmo problema referido anteriormente: teria sido bom ver mais as dinâmicas entre personagens e dar mais tempo de ecrã a cada uma.
Tecnicamente, não existe algo negativo a apontar. O filme foi gravado com rácio da academia, fornecendo assim um olhar aproximado que acentua bem no tipo de narrativa e temáticas.
A refrescante e íntima abordagem a relacionamentos e à assexualidade tornam este filme uma ótima experiência cinematográfica, sendo quase impossível não nos relacionarmos ou, pelo menos, sentir empatia e consequentemente torcer pelas personagens (a jovialidade de Rönkkö ajuda bastante neste departamento!). Um filme que gostei bastante e uma ótima recomendação para quem quer um retrato autêntico do que é ser um jovem a descobrir-se numa etapa da vida tão importante.
A abordagem autêntica à fase de jovem adulto, com foco na mulher, torna este filme do género "coming of age" fresco e entusiasmante. Em vez de tocar em assuntos de forma muito leviana ou nem sequer tocar neles, o filme aborda-os. O tema que mais apreciei foi o da assexualidade, que não costuma ser muito discutido nas várias formas de entretenimento. Aliás, uma das únicas ocasiões onde vi o tema abordado foi na série BoJack Horseman (2014). A naturalidade com que a sexualidade é abordada é outro ponto de destaque. Sexo é perfeitamente natural, especialmente durante a fase da adolescência e jovem adulta, e neste filme é tratado dessa forma, tanto fisicamente como em diálogo. E é assim que é suposto. Aliás, a naturalidade com que o filme aborda a sexualidade é refrescante, pois todos nós somos diferentes em diversos aspetos, neste caso, a sexualidade/orientação. A química e dinâmica entre personagens eleva esta abordagem, o que acaba por ser um problema: a curta duração do filme impede-nos de observar mais snippets da sua relação. Eu queria ter visto mais cenas delas juntas! Porque para além da química entre o casal, Rönkkö é contagiante e cheia de vida. Sem dúvida o melhor desempenho do filme.
A narrativa ocorre quase sempre às sextas-feiras, ocorrendo time-skips entre estas, com exceção da última, que se prolonga para o sábado. Apesar disto impulsionar as relações e o desenvolvimento das personagens, surge com isto o mesmo problema referido anteriormente: teria sido bom ver mais as dinâmicas entre personagens e dar mais tempo de ecrã a cada uma.
Tecnicamente, não existe algo negativo a apontar. O filme foi gravado com rácio da academia, fornecendo assim um olhar aproximado que acentua bem no tipo de narrativa e temáticas.
A refrescante e íntima abordagem a relacionamentos e à assexualidade tornam este filme uma ótima experiência cinematográfica, sendo quase impossível não nos relacionarmos ou, pelo menos, sentir empatia e consequentemente torcer pelas personagens (a jovialidade de Rönkkö ajuda bastante neste departamento!). Um filme que gostei bastante e uma ótima recomendação para quem quer um retrato autêntico do que é ser um jovem a descobrir-se numa etapa da vida tão importante.
O Anjo Exterminador
O meu primeiro filme do realizador espanhol Luis Buñuel é um estudo comportamental e uma sátira à classe rica. Previamente, Luis Buñuel já tinha realizado Los Olvidados (1950) e Viridiana (1961), trabalhando ainda no filme The Discreet Charm of the Bourgeoisie (1972), com todos estes filmes a terem temáticas recorrentes: a crítica, sátira e observação (realista) das várias classes sociais. Após ver o filme no cinema, senti que necessitava de ver uma segunda vez, o que acabou por acontecer, de forma a perceber bem e melhor o filme, estando mais atento ao diálogo, alegorias e edição. Neste filme, além de criticar a classe alta, Luis Buñuel aproveita para atirar farpas à igreja, embora com menos intensidade quando comparado com outros dos seus filmes.
Com caraterísticas surrealistas, marca constante do realizador, o filme começa com uma vontade metafísica de abandonar a mansão por parte dos funcionários, com exceção do mordomo principal, com esta última caraterística a servir de alegoria à “luta” entre as classes mais baixas, de forma a ficar sempre em cima na hierarquia, mesmo sem alguma vez conseguir atingir o topo (a classe alta). A mansão vai receber uma festa, para a qual foram convidadas pessoas de classe alta. Após o jantar e convívio, com situações algo caricatas no meio, surge algo que impede as pessoas de saírem da sala onde se encontram: uma barreira invisível. Esta barreira não é propriamente física, mas mental. As personagens que se encontram na sala não conseguem sair e quem está fora da mansão não consegue entrar.
Este cenário coloca o grupo numa situação difícil, reminiscente de Lord of the Flies, com Luis Buñuel a aproveitar para explorar e criticar a classe alta, revelando a sua hipocrisia e os seus verdadeiros "eus". Apesar de não existir um grande desenvolvimento das personagens, e penso que não seja necessário tendo em conta o objetivo do filme, com cada personagem a possuir um nome e pouco mais, cada uma possui uma caraterística fundamental. Estas incluem hipocrisia, maçonaria, perversão, entre outras. No fundo, algumas das caraterísticas intrínsecas das diversas pessoas que formam uma sociedade. No caso deste filme, estas caraterísticas vêm ao de cima à medida que a situação se prolonga, com um ambiente cada vez mais stressante e tenso, com cenas condizentes com estas emoções, como quando partem um cano para terem acesso a água. A forma como Luis Buñuel enquadra isto tudo é genial, culminando no desaparecimento total do que supostamente, mas falsamente, carateriza as classes burguesas. Foi esta subversão que me cativou, a simples premissa que numa situação de descalabro o ser humano retorna à sua base independentemente do seu estatuto social e económico. E um dos problemas no filme está aqui. Enquanto eu me refiro ao ser humano, Luis Buñuel refere-se neste filme unicamente à classe burguesa. É errado afirmar que os outros estratos sociais não iriam enveredar pelo mesmo caminho. Aliás, ao referir-me ao ser humano no geral e não a uma classe específica, eu próprio assumo que independentemente da classe social, muitos acabariam por mostrar o seu verdadeiro "eu".
O surrealismo presente no filme é proporcionado pela edição, alegorias, e algumas cenas e diálogos que recorrem a repetições, incluindo o abandono inicial por parte dos funcionários, como se de uma premonição se tratasse. Desta forma, o filme transmite constantemente que há algo de errado e transcendente no que se está a passar, sem nunca revelar o mecanismo nem a razão, embora esta última se torne clara após uma observação astuta.
Para quem procura uma crítica social (com um certo foco na sociedade espanhola da altura) ou uma introdução à filmografia de Luis Buñuel, ou ambos, este filme é um bom ponto de entrada. Apesar de não ser perfeito, nunca excede o seu tempo, mantendo assim a curiosidade do espetador viva até ao fim.
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Com caraterísticas surrealistas, marca constante do realizador, o filme começa com uma vontade metafísica de abandonar a mansão por parte dos funcionários, com exceção do mordomo principal, com esta última caraterística a servir de alegoria à “luta” entre as classes mais baixas, de forma a ficar sempre em cima na hierarquia, mesmo sem alguma vez conseguir atingir o topo (a classe alta). A mansão vai receber uma festa, para a qual foram convidadas pessoas de classe alta. Após o jantar e convívio, com situações algo caricatas no meio, surge algo que impede as pessoas de saírem da sala onde se encontram: uma barreira invisível. Esta barreira não é propriamente física, mas mental. As personagens que se encontram na sala não conseguem sair e quem está fora da mansão não consegue entrar.
Este cenário coloca o grupo numa situação difícil, reminiscente de Lord of the Flies, com Luis Buñuel a aproveitar para explorar e criticar a classe alta, revelando a sua hipocrisia e os seus verdadeiros "eus". Apesar de não existir um grande desenvolvimento das personagens, e penso que não seja necessário tendo em conta o objetivo do filme, com cada personagem a possuir um nome e pouco mais, cada uma possui uma caraterística fundamental. Estas incluem hipocrisia, maçonaria, perversão, entre outras. No fundo, algumas das caraterísticas intrínsecas das diversas pessoas que formam uma sociedade. No caso deste filme, estas caraterísticas vêm ao de cima à medida que a situação se prolonga, com um ambiente cada vez mais stressante e tenso, com cenas condizentes com estas emoções, como quando partem um cano para terem acesso a água. A forma como Luis Buñuel enquadra isto tudo é genial, culminando no desaparecimento total do que supostamente, mas falsamente, carateriza as classes burguesas. Foi esta subversão que me cativou, a simples premissa que numa situação de descalabro o ser humano retorna à sua base independentemente do seu estatuto social e económico. E um dos problemas no filme está aqui. Enquanto eu me refiro ao ser humano, Luis Buñuel refere-se neste filme unicamente à classe burguesa. É errado afirmar que os outros estratos sociais não iriam enveredar pelo mesmo caminho. Aliás, ao referir-me ao ser humano no geral e não a uma classe específica, eu próprio assumo que independentemente da classe social, muitos acabariam por mostrar o seu verdadeiro "eu".
O surrealismo presente no filme é proporcionado pela edição, alegorias, e algumas cenas e diálogos que recorrem a repetições, incluindo o abandono inicial por parte dos funcionários, como se de uma premonição se tratasse. Desta forma, o filme transmite constantemente que há algo de errado e transcendente no que se está a passar, sem nunca revelar o mecanismo nem a razão, embora esta última se torne clara após uma observação astuta.
Para quem procura uma crítica social (com um certo foco na sociedade espanhola da altura) ou uma introdução à filmografia de Luis Buñuel, ou ambos, este filme é um bom ponto de entrada. Apesar de não ser perfeito, nunca excede o seu tempo, mantendo assim a curiosidade do espetador viva até ao fim.
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