Três Mil Anos de Desejo

Há muito tempo que não ia ao cinema ver um filme de fantasia. Sinto que são cada vez mais incomuns filmes deste género, e que ao mesmo tempo proporcionam um bom tempo no cinema. Diga-se, uma fantasia fantástica e extravagante. Three Thousand Years of Longing (2022) insere-se nesta categoria. Devo dizer que passei um belo tempo ao ver este filme e que fiquei com vontade para mais deste género.

A premissa do filme é simples: uma mulher, Alithea Binnie (Tilda Swinton), encontra um génio (Idris Elba) que lhe oferece 3 desejos. No entanto, Alithea não sente necessidade de pedir qualquer desejo. Os dois vão conversando, com o génio a narrar contos do passado dele, envolvendo sempre mulheres com quem teve uma ligação amorosa.

A melhor parte do filme são estes contos. Estão repletos de mística e fantasia, proporcionando mini histórias únicas e divertidas. Cada um conta uma história diferente, envolvendo traição, família, amor incondicional, entre outros temas. A constante entre cada conto é o azar (por vezes por culpa própria) do génio. Situam-se em diferentes épocas da história, com o devido acompanhamento do cenário e vestuário. A imersão é amplificada através da utilização de atores oriundos dos locais (ou pelo menos similares) onde decorre a ação de cada conto. Quantas vezes vemos filmes históricos a usarem atores com uma etnia completamente diferente do local do enredo? Este tipo de escolha do elenco é sempre positivo. A cinematografia e os efeitos visuais durante estes contos fazem o seu trabalho, ou seja, dão o efeito de fantasia aos contos.

Se o filme mantivesse este nível, poderia vir a ser discutido como um dos melhores do ano. Infelizmente a inconsistência faz com que o filme piore drasticamente no último terço. Continua divertido, mas a partir do momento que ambos regressam a Londres, que no filme é bastante colorida (o que é falso, todos sabem que Londres é cinzenta), a qualidade piora. A cinematografia e o desempenho dos atores continua bom, isso não se discute, mas nota-se que o enredo foi apressado até ao seu final, ficando ainda a ideia de que o último terço foi colado aos dois primeiros terços do filme. A mística e fantasia também desaparecem quase totalmente neste ato final, substituídos por temas não relacionados em que nada se assemelham aos prévios. O último ato e o final estragam o filme? Não, mas decrescem a qualidade geral do filme.

Eu adorei o filme, passei um excelente bocado ao ver uma jornada fantástica no grande ecrã. Contudo, o último terço do filme desnivelou a excelência dos dois primeiros terços, o que me entristece, pois se o filme mantivesse a qualidade constante, provavelmente seria um dos melhores do ano, e não só um dos mais divertidos do ano. Apesar disso, não consigo deixar de recomendar esta ótima experiência cinemática.

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